Hora de definições para os ônibus elétricos brasileiros

Indústria tem todas as condições de se tornar líder global no setor, mas, antes, precisa se consolidar no mercado nacional

IÊDA DE OLIVEIRA

A batalha pela eletrificação do transporte público no Brasil começa a entrar numa fase crítica.

As decisões que serão tomadas neste momento por prefeitos e autoridades federais definirão o futuro da indústria brasileira de transporte sustentável.

Falando bem claramente: é preciso definir se essas decisões reforçarão a cadeia produtiva do ônibus elétricos já instalada no Brasil ou darão preferência a produtos importados.

Qual será a prioridade? Incentivar a demanda para uma indústria que gera emprego e renda em território nacional, com tecnologia 100% brasileira?

Ou trazer o produto pronto do outro lado do mundo, fortemente subsidiado pelo Estado chinês e fabricado por trabalhadores chineses?

Alguns prefeitos, ansiosos por apresentar planos de renovação de frota em ano eleitoral, acabam caindo na tentação de tomar decisões apressadas e irrefletidas.

Um deles chegou a dizer, no início de julho, que alguns ônibus chineses recém-chegados “são iguais aos que circulam em Dubai” – como se fosse possível comparar as condições operacionais da capital dos Emirados Árabes Unidos às das cidades brasileiras.

Temos uma frota de 106 mil ônibus urbanos a diesel no país e apenas 550 ônibus elétricos em circulação. O potencial de crescimento da eletrificação no mercado doméstico é imenso.

Em maio, o programa PAC Seleções e o BNDES anunciaram um pacote de financiamento de R$ 10,5 bilhões para renovação de frotas de ônibus em 98 municípios brasileiros.

Talvez tenha sido a mais importante iniciativa do governo federal em muitos anos para apoiar a indústria brasileira de transporte público.

No entanto, dos 5.350 veículos que serão financiados pelo PAC, apenas 2.529 serão ônibus elétricos.

Ainda é um número muito tímido. Com a capacidade industrial já instalada no país, as empresas brasileiras estão em condição de produzir, hoje, 10 mil ônibus elétricos/ano.

A cadeia produtiva nacional de ônibus elétricos está praticamente completa: tecnologia de tração elétrica, chassis, carrocerias, motores elétricos e até baterias.

E com as vantagens operacionais daí decorrentes, como garantia de reposição rápida e assistência técnica em todo o país, em língua portuguesa.

Dentro de alguns anos, também as células das baterias – hoje, o único componente crítico ainda importado – serão produzidas no Brasil.

Estamos falando de empresas como Eletra, Caio, WEG, Mercedes-Benz, Scania e até BYD, entre outras.

São empresas de capital nacional ou multinacional, instaladas há anos ou décadas no país, em diferentes estados, unidas por um compromisso comum com a industrialização brasileira.

Nada contra as empresas chinesas disputarem o mercado brasileiro de transporte público elétrico. Desde, é claro, que instalem suas fábricas no Brasil, pagando impostos e gerando emprego em território nacional.

Afinal, qual será a prioridade?

Em janeiro, o governo federal lançou o plano estratégico de “neoindustrialização” do país, a Nova Indústria Brasil (NIB).

Uma de suas metas para 2033 é: “aumentar em 25 pontos percentuais o adensamento produtivo na cadeia de transporte público sustentável”.

Outra, até 2030, é fazer do Brasil “um hub global de desenvolvimento e produção de veículos elétricos e híbridos, com ênfase nos combustíveis alternativos”.

A indústria brasileira, de fato, tem todas as condições de se tornar líder global em transporte público sustentável.

Mas para atingir este objetivo, há uma preliminar inescapável: é preciso, primeiro, consolidar a cadeia produtiva nacional de ônibus elétricos no mercado brasileiro.

A partir daí, sim, haverá uma larga estrada à frente para a exportação e a conquista da liderança internacional.

Artigo publicado originalmente na Connect Smart Cities.

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